09 julho 2012

carreira

Ao que parece, dos dois aforismos:

Ninguém é insubstituível
e
Mãe há só uma

, o primeiro é mais falacioso, pelo menos a atestar pelo estado de farrapo emocional em que encontrei os meus filhos este fim-de-semana, depois de vários dias em que vendi o corpo e a alma à entidade patronal. Ainda assim, apesar de ter dado com eles de unhas ratando sapatos, cabelos desgrenhados, ranho seco escorrendo pela roupa de cores desirmanadas, e muita, muita necessidade de colo, também houve o lado bom de verificar que isto de ser uma mulher 100% carreira é largamente sobrestimado. Está bem que fiz coisas interessantes, conheci pessoas inteligentes, estive onde e quando as coisas estavam a acontecer. Mas admito que não me dá tanto prazer o reconhecimento de um ilustríssimo conferencista como o de um filho, quando vê que fico à espera para lhe acenar enquanto entra no autocarro para ir em passeio com os colegas. Já sabia que as minhas ambições eram comezinhas; não sabia era que alguns dias de baldanço maternal me davam logo cabo das competências, ao ponto de me esquecer de fraldas ou de deixar de compreender o dioguês. Se é para fazer malabarismo, é melhor ficar-me pelas habilidades que já conheço.

6 comentários:

Naná disse...

O primeiro só é falacioso no que à família diz respeito.
No local de trabalho só és insubstituível enquanto vergares a mola sem grandes resmungos...

Vera disse...

O primeiro bateu-me com força quando tive o 1.º filho, foi a minha grande descoberta de anos, aquela que revoluciona todo o nosso mundo privado e que nos tira de pedestrais ocos, superior às ditas descobertas do ser em crescimento e evolução. Sim, isto tudo, tal foi o "baque".
Depois, foi o descobrir o meu ser mais humilde, mais forte e com com muito mais conteúdo. Aprendi, quando fui mãe, que só há um espaço em que somos soberanas, o nosso lar. E até aí, convenhamos, é preciso trabalhar. Se morrer amanhã e o R. voltar a casar, mesmo aí, não será a mesma coisa, para as crias e para o pai.
Quer dizer, ele pode até ficar melhor mas já combinámos que se um morrer e o outro re-casar, o sucumbido volta para o assombrar. Ahahahah!
Em suma, ser mãe ensina-nos a relativizar!

calita disse...

Pois, percebo, mas como eu queria um fim-de-semana desses :)

gralha disse...

Vera, ser mãe é, sem dúvida, a maior lição de humildade que apanho todos os dias. E é uma coisa diária mesmo.

triss disse...

Nunca achei que o trabalho/carreira fossem muito compatíveis com a maternidade. Um part-timezito bem pago é que era.

manue disse...

ó meus deus. É isso mesmo. Já tive muitos empregos, alguns de muita responsabilidade, alguns bons, outros excitantes, mas isso não me interessa. Não me interessa mesmo para nada. Acho que até ler isto tive vergonha de admitir a mim própria que, sim, tenho mais prazer, neste momento da minha vida, em levar uma vida doméstica, fazer máquinas de lavar, passar roupa, fazer o jantar, ir buscá-lo à escolinha, irmos passear. O trabalho tornou-se meramente um ganha-pão, quando antes era uma vocação, uma excitação. Agora basta-me que ele seja uma criança feliz.