19 março 2014

malpais-vulcão poás

6 de Março de 2014

O amanhecer morno foi antecipado por rugidos assustadores (ocelotes? jaguares?) que vieram a revelar-se as boas vindas pouco amistosas dos macacos gritadores. Conseguimos convencer o único funcionário (contrariado) da espelunca hoteleira a levar as nossas canecas para a cozinha/oficina/laboratório de alquimia e fazer-nos um café de meia com ovos mexidos numa frigideira arqueológica, preparando-nos para um dia de sossego pelas praias pedregosas do fim do mundo nos mapas da América Central.
Estava na altura de fazer exercício do nosso direito ao descanso e assim foi: adeus botas, olá chinelos e toalhas de praia*. De manhã, na Playa del Carmen aproveitei para tentar fazer um bocadinho de surf (com pouco sucesso, as ondas chegavam aos gigantescos 50 centímetros) enquanto os rapazes construiam casinhas com canas e cocos. À tarde, fomos para uma praia desconhecida um pouco a norte, com uma piscina natural que foi a cereja no topo do bolo do paraíso tropical. A maré subiu depressa, o sol inclemente começava a sentir-se nos ombros e estava na hora de deixar para trás os pelicanos e os cavalos a tomar banho de mar. Jantámos sanduíches de fome e mortadela e deixámos que o amasso de um Pacífico pachorrento nos adormecesse.
De regresso à estrada, viajámos até Paquera onde nos esperava o ferry para a travessia do golfo. Entre fatias de manga verde com sal, postais, pernas de surfistas americanos e crianças costa-riquenhas que rivalizavam com os macacos na produção de decibéis, chegámos à indescutivelmente mais feia cidade de todo nosso roteiro: Puntarenas, geminada com a Charneca da Caparica em charme e construção clandestina. Fugimos depressa até ao restaurante de estrada mais próximo e retomámos a rota rumo às montanhas.
Mais uma agradável surpresa nos esperava no sopé do vulcão Poás, no hotel amoroso escondido entre a estre as colinas, com uma piscina que fez as delícias dos miúdos e um quarto amplo e asseado que foi bem acolhido pelos graúdos. Agarrei-me ao meu livro enquanto os rapazes ensaiavam saltos para a água sob a cascata clorificada e o Luís foi até San Jose para tentar recuperar a tão ansiada mochila. Em vão: chegada ao país, e apesar das nossas indicações explícitas, os senhores da Iberia levaram-na a passear para Monteverde, onde ficou a desfrutar do ar puro da montanha enquanto nós comíamos pó em Malpais. Ainda não sei bem por que artes mágicas a fizeram finalmente chegar até nós, já a meio da noite, muito para o alívio das nossas bocas escovadas com dedos-de-dentes há quase uma semana.

* E adeus toalha de praia do Diogo, que voou do tejadilho lá para os lados de Santa Teresa.
 

 Amanhecer em Malpais

 Sempre em frente

 Preparando-me para enfrentar o swell

 O mar é de todos

 Pequeno-almoço de fruta com mapas

 Travessia do golfo de Nicoya

6 comentários:

Naná disse...

Bem, se quiser um cheiro de Costa Rica, basta ir à Charneca da Caparica?? Não posso acreditar!

Aposto que até bendisseste a pasta de dentes que faz os putos ficarem malucos ahahahahahah

dona da mota disse...

uma pessoa lê, baba e não tem o que dizer a não ser: pró-xi-mo, pró-xi-mo (relato)!
:)

calita disse...

*suspiro* tão bom!
(aquela de terem de atravessar o rio sem saberem a profundidade arrepiou-me um bocado. Ando a ficar uma medricas, parece-me!)

D.S. disse...

Deve ser um maravilhamento para os sentidos...! E um cavalo no mar?? Mais uma dose de surrealismo

Amigo Imaginário disse...

Adorei a foto do cavalo na praia! Que lindo! :)

gralha disse...

Naná, não me digas isso senão eu vou já ali à Charneca da Caparica para tentar matar saudades...
Dona da mota, não te podes queixar, esta semana passei as horas de almoço todas a dar à tecla ;)
calita, se estivesses lá também passavas (deu arrepios mas dos bons).
D.S. e Amigo Imaginário, o cavalo não só foi à praia como estava a beber água do mar, na boa.