20 março 2014

vulcão poás-cahuíta

8 de Março de 2014

O despertador fez-nos saltar da cama ainda antes do nascer do sol. Sabíamos que a vista desimpedida da cratera é uma coisa rara mas as probabilidades melhoram se formos bem cedo, antes da formação de um tecto de nuvens. Quando chegámos à entrada do parque, a desilusão: só abria às 8 horas. Com o estômago colado às costas, descemos a encosta ponteada de vacas alpinas e fomos tomar o pequeno-almoço ao hotel, antes de voltar a subir ao Poás.
Valeu a pena! A visão da cratera fumegante aos nossos pés é qualquer coisa de extraordinário e inesquecível, e acho que não foi o enxofre nem a altitude (3000 m) que me subiram à cabeça. Esta viagem tem-nos feito bem sentir a nossa pequenez neste planeta maravilhoso e este foi um daqueles momentos que ficarão gravados a quente na minha memória.
Era tempo de apontar às Caraíbas. Descemos até Herédia, onde nos refastelámos de pizza rodeados de Ticos genuínos num sábado relaxado, passeando na praça principal e comendo gelados à boleia de motorizadas. De volta à estrada, e para comemorar o Dia da Mulher, peguei no volante e conduzi pela longa via Braulio Carillo (pelo menos até me lembrar que não tinha trazido a carta de condução), atravessando o esmagador parque nacional homónimo, onde apanhámos as primeiras chuvas.
O trajecto voltou finalmente a sul já perto da costa oriental, numa imensa planície coberta de sucessivas quintas de plantação de banana (de onde vêm as nossas conhecidas chiquitas). O alcatrão desenrolava-se vagarosamente, a imaginação para jogos e estórias começava a escassear, e a noite já era cerrada quando chegámos finalmente a Cahuíta, a nossa última paragem, a poucos quilómetros da fronteira.
O alívio foi a duplicar quando estacionámos o jipe, tendo conseguido não atropelar nenhuma das centenas de transeuntes, ciclistas e animais que desaguam na estrada ao lusco-fusco, e fomos simpaticamente recebidos pelo nosso anfitrião. O Sepp é um alemão de grande barriga cheia de estórias, casado com uma portuguesa que conheceu em Moçambique, onde tinha um crocodilo-de-guarda. Sentimo-nos imediatamente em casa na nossa cabina nirvana, com dois quartos colonias de camas cobertas de redes e uma cozinha e alpendre exteriores. Deitámos os miúdos e fomos embalar umas cervejinhas geladas na cama de rede.
Amanheceu um dia amniótico e suave, com o som ensurdecedor de milhões de passarinhos. Depois de mais um pequeno-almoço cheio das coisas boas a que já nos habituámos, fomos até à Playa Negra comprovar que o mar das Caraíbas continua a ser uma festa para os sentidos, com ondas mornas e um cheio a floresta a entrar-nos pela pele. Seguiu-se um mergulho na piscina, com direito a uma valente queda e consequente queixo aberto do Diogo (felizmente já tinhamos o estojo de primeiros-socorros).
Almoçámos e fomos até ao parque nacional de Cahuíta, o casamento perfeito entre uma linda baía de areia dourada e a verdadeira selva. Entre mergulhos e brincadeiras na areia, vimos macacos, guaxinins, borboletas enormes de todas as cores, aranhas arrepiantes, caranguejos azuis, preguiças e um lagarto jesus-cristo, correndo sobre as águas do mangal. Foi bom chegar a casa ao fim de mais um dia tão intenso e deixar dormir um Diogo-farrapo enquanto o Gugas fazia fichas de estudo, compensando esta longa mas perfeitamente justificável gazeta à escola.
Depois do banho fomos jantar fora (para variar do menu habitual de cachorros e sandes de atum) a um restaurante sobre as ondas. Comemos um maravilhoso polvinho al ajillo com vista para as preguiças e para a escuridão mansa do mar. Deitámo-nos a contar as estrelas e a ouvir os grilos, fazendo de conta que aquela noite se prolongaria para sempre. Ahh, a vida pode ser tão simples e tão boa.

 Cratera principal do vulcão Poás

Travessia de um rio na província de Limón.


 Playa negra, Cahuíta

 Guaxinim!

 Preguiça!

Acabei de ver uma rã preta e verde!


4 comentários:

Melissa disse...

run for your liiiiiife!

disse...

Tou adorar o teu diário!!!

(ainda bem que ganhou a d) ;)

calita disse...

"Amanheceu um dia amniótico e suave", apetece-me começar um livro com esta frase.

gralha disse...

Melissinha, felizmente não me deparei com nenhum animal realmente perigoso, senão tinha ido fazer-lhe festinhas.
Obrigada, Té :)
calita, estás à vontade.