08 janeiro 2015

a culpa é do hipócrates

Haverá lugar no mundo para as pessoas que não vivem obcecadas com o melhoramento pessoal e a saúde, mas sem caírem no total desleixo que só é admitido aos pobrezinhos e aos depressivos clinicamente certificados? Está bem, é importante cuidarmos de nós, fazermos por nos sentir bem. Só que parece que atrás de um regime de verduras e fruta, da febre das bagas e dos grãos importados de um canto escondido dos Andes, da meditação e da correria nos intervalos de tanto zen auto-inflingido – caraças, pá, como se o engenho humano não tivesse prosperado com a inquietação e com a necessidade – parece que há sempre espaço para mais uma tendência ego-optimizadora. O truque é mascarar de novidade aquilo que as avós sempre nos disseram. Agora lembraram-se do caldo de ossos. Até parece que já vejo as fashionistas todas a encher o seu thermos Louis Vuitton de canjinha. Personal trainers deste mundo: por que esperam para patentear o agasalhating? Avisem-me quando o leite condensado e a morcela deixarem de ser considerados veneno para eu poder sair da toca.

11 comentários:

Melissa disse...

A angústia da minha vida, a sério. Penso: mas será que tenho de dedicar assim tanta energia para ser saudável? É que não sei se tenho/quero/consigo.

gralha disse...

Quase podia apostar que dedicar demasiada energia para ser saudável não é saudável.

Seja como for, Melissa, não quero.

Ana disse...

Em alguns casos torna-se mesmo uma obsessão.

gralha disse...

E agora uma questão para a Psicóloga Sabichona: é possível uma pessoa libertar-se verdadeiramente de uma obsessão, ou substitui-se sempre uma por outra?

Melissa disse...

Dizem que as obsessões são fugas... Substituir por outra é escolher outra rota :D

Amigo Imaginário disse...

Ou eu ando muito a leste da vida pelas terras gélidas ou a malta aqui está-se a borrifar para essas modas pseudo-saudáveis. Na volta, sobreviver ao frio consome a energia toda. Ou conserva melhor. Sei lá... se conseguir chegar a Abril viva, logo respondo.

gralha disse...

É muito falta do que fazer, Amigo Imaginário. Mas recomendo-te uma canjinha, seja como for.

Ana disse...

Sim, é possível deixar de ter obsessões em termos daquelas que interferem significativamente com a nossa qualidade de vida (porque há muitas obsessões que podem ser funcionais ou saudáveis), mas muitas vezes o que acontece é precisamente uma substituição. Se a pessoa tiver noção de que tem esse problema, vai saber identificar que está a substituir e incidir sobre as origens, senão vai achar que venceu uma obsessão e quando der conta já está enterrada até ao pescoço com outra. O que não é possível é alguém que tem uma estrutura de personalidade obsessiva deixar de a ter (e quem sofre de obsessões tem de ter previamente um traço desses). Mas isso não tem de constituir um problema, muito pelo contrário. Só é um problema quando, ao "adoecer", as obsessões começam a comandar a vida da pessoa. A linha é que pode ser discutível (ainda que para um clínico não seja assim tanto, há critérios claros, senão isto era uma república das bananas :) ). Às vezes demora-se é algum tempo a assumir que interfere...já conheci pessoas que muitos anos depois de dobrarem as mesmas roupas dezenas de vezes antes de as meterem no roupeiro, ao ponto de perderem horas diárias com isso, entre muitas outras coisas, achavam que não tinham um problema. Aliás, como concretizar a obsessão dá um alívio em termos de ansiedade, sentem que é algo que as faz sentir melhor e é uma pescadinha de rabo na boca porque é sempre temporário. Alimentação, exercício físico, por aí fora, encontra-se muitos obsessivos. O que lhes dá gozo nem sempre se relaciona com isso, mas com a sensação de total controlo sobre algo.

dona da mota disse...

Grala e Mãe Sabichona, o R. já tem sugerido algumas vezes para eu substituir a vontade de comer por sexo, mas penso sempre que ele é suspeito neste conselho, ahahahaahahahahaahahhah
Será que resultaria??? Ahahahaahahah

dona da mota disse...

Gralha e não Grala, atenção! :)

Anónimo disse...

O problema é que a saúde mental, por vezes, tem uma dieta bem mais complicada de encontrar nos Andes ou em colunas de revistas.

SMak