04 agosto 2011

sem saber bem como, conquistaram-me

São materialistas, individualistas, puritanos, consumistas, ingénuos, auto-suficientes, dotados de um humor pateta, obcecados com o sucesso, destituídos de ironia, uns miúdos, uns cavalos selvagens, a humanidade numa lata de sopa que se vende como se fosse vichyssoise. São o povo que me acolheu, cheiinho de defeitos - como todos os outros - mas, também, com imensas e enormes qualidades. E uma pessoa apercebe-se que já gosta mesmo deles quando custa, de fora, ouvir dizer mal. Não gostamos que chamem nomes à nossa mãe, mesmo que ela nos chegue a roupa ao pelo. Acho que nunca mais vou ouvir o tão europeu desdém "ah, sim, os americanos..." (idealmente seguido de um bafo no cigarro) sem que isso me corte um bocadinho o coração.
Gente, para que conste, os americanos são trabalhadores como o caraças. São ingénuos, sim, mas também são dos poucos que ainda acreditam que podem fazer alguma diferença positiva ao longo da sua vida. Muitos deles têm valores de verdade, pelos quais regem a sua vida, e que não descartam quando não dão jeito. São leais, genuínos e tolerantes. São boa onda, andam de bem com a vida e não resmungam por tudo e por nada. Se isso é ser parvo? Não é mais parvo passar a vida a rezingar com tudo? E, como em todo o lado, há muita gente criativa, culta, inteligente, original, generosa, boa. Não volto daqui a conduzir um GMC (para minha tristeza) e com os cabelos platinados ao vento, mas espero voltar um bocadinho americana.

9 comentários:

Melissa disse...

Pelo pouco tempo que aí estive, concordo plenamente. O espírito positivo americano é invejável, traz suficiente para mim também.

Marta disse...

Subscrevo integralmente! Gosto sobretudo da tolerância, do desempoeiramento, da informalidade nas relações profissionais, da falta de peneiras, do profissionalismo (vais sentir uma diferença enorme no atendimento nos restaurantes ou nas lojas, por exemplo).
Acho, sobretudo, que são um povo de bem com a vida e com eles próprios!
Marta (feliz por estar de novo em Portugal, mas com imensas saudades das coisas boas dos EUA!)

Irina A. disse...

Tenho ideia de que todos aqueles que vão para fora já n regressam ao país de origem, ou então se regressam é mesmo só por obrigação ou por força das circunstâncias. Os EUA são um sonho para quem deseja muito mudar o rumo da vida, eu certamente não abriria mão do “amercican dream”, isto a menos que tivesse mesmo de ser, claro :)

Marta disse...

Irina,
Nem sempre se regressa só por obrigação ou por força das circunstâncias. Há quem regresse porque perpectivar a vida toda tão longe não faz sentido, especialmente quando se tem filhos! O que acho é que quem regressa, regressa transformado...
De todos os portugueses que conheci na diáspora, a grande maioria queria regressar
Um beijinho,
Marta (a mesma Marta do segundo comentário)

Irina A. disse...

Olá Marta :)
Eu por acaso tenho uma opinião contrária à tua. Eu já estive fora e infelizmente tive de regressar, mas hoje que já tenho uma filha tenho mais certezas de querer sair de Portugal, e isso acontece precisamente por ela agora existir. Gostava de lhe dar um futuro melhor, com um maior leque de oportunidades do que este que Portugal tem para oferecer.
Beijinhos
Irina

gralha disse...

Pois é, Irina, eu estou como a Marta, é sobretudo porque tenho filhos que volto, e mais cedo do que o previsto. Os EUA são um grande país mas não é aqui que quero que eles cresçam.

gralha disse...

E o American Dream é uma grande tanga, especialmente na conjuntura dos últimos anos, que tarda em melhorar.

Vera Dias António disse...

Pois eu também é mais pelos miudos que não emigro. Pelos miudos e pelo graudo que sabe o que é ser criado fora de portugal e ser visto como um estrangeiro (lá) e depois vir para Portugal e ser um estrangeiro (cá).
Parecendo que não é nada demais é muito desagradável. É um bocadinho o não se ser totalmente de um lugar, não ser ter aquele chão que é seu e se defende. E depois são os laços, particularmente com os avós, que são tão bons e que assim acabam por se perder um bocadinho.
Sim Gralhinha eu sei ao que vens e é só isso que me tem por cá!
Beijocas!!!
Nota: para nao abrir outro comentário, sobre o texto em baixo, está fenomenal: "Ter filhos é... ter quem nos encha o ego!" lol

Ana C. disse...

Vais voltar melhor, sim senhora :) Por mim, vou ter muitas saudades da gralha na américa e da sua perspectiva sempre imparcial sobre a fauna que a rodeava.
Lembro-me tão bem de um post escrito numa noite de neve, em que nos contavas que estavas prestes a ser mãe pela segunda vez e, só por isso, já deves trazer os estates no coração :)