19 outubro 2011

torradas na chapa

Entro naquela casa e tenho 4 anos outra vez. A sala está cheia dele, ainda. Está no sofá (que mudou de lugar), onde me recebia ao colo e lia sonetos. Está no quarto, no porta-fatos vazio, nas fotografias connosco no jardim da Cidade Universitária. Está ele, o meu Avô, e estão todos: tios, primos, Natais, jantares de sexta-feira inaugurados com um "ora então muito bom proveito!". As paredes verdes são as mesmas, os reposteiros cristalizando um cenário de décadas, palco da minha infância. É tão bom rever tudo na companhia de dois rapazes pequeninos, novos em folha, que espalham o estardalhaço e enchem de risos espaços silenciosos há tempo demais. Fomos lanchar a casa da minha Avó e o Gugas concordou que ela faz as melhores torradas do mundo. Mexeu cuidadosamente o açúcar na chávena de chá - que colher tão pequenina! E o Diogo fez combóios de molas de roupa pela carpete. Esperei tanto por isto.

6 comentários:

Melissa disse...

Pertencer é algo que só se conhece quando se esteve no extremo oposto. É uma sensação que bate forte quando
e estou em Fortaleza na cama enorme da minha tia e todo mundo fala como eu aprendi a falar. Fico ali calada a degustar aquele tesouro, e elas não fazem a menor ideia.

É como um clique de encaixe que só eu ouço.

Catarina disse...

há coisas que sabem pela vida...

jmalho disse...

O que melhor que podemos dar aos nossos filhos são raízes e memórias.

Bjos

Ana C. disse...

Adorava ter um sítio onde pudesse levar os miúdos de volta ao meu passado.
Mais um texto sentimentalmente gourmet :)

Naná disse...

É tão bom podermos regressar aos cenários mais antigos da nossa vida!

Rita disse...

Eu não tenho um sitio assim e tenho muita pena.