13 janeiro 2012

a visibilidade da dor

Estava agora a ler a notícia do casal italiano que se suicidou por causa da crise e pareceu-me mesmo sintomática deste momento na nossa história colectiva. (Não ponho a hiperligação porque a qualidade jornalística da notícia está má demais, como a encontrei, e ainda não a vi noutras fontes de informação)
Deus abençoe os italianos e a sua expressividade. Como é bom que haja quem esperneie sonoramente, quem não esteja satisfeito e não se satisfaça com likes em movimentos sociais online, ou com manifestações que são pouco mais que o ajuntamento diurno dos mesmos que estão no Largo do Camões à uma da manhã.
Este casal insatisfeito apelou às mais altas instâncias. E não foi ouvido. E, tristemente, tomou a drástica decisão, para a vida e para a morte, de dizer que assim não dava. É que este sistema não dá mesmo. Não sou de esquerda, não acho que a distribuição dos bens deva ser igualitária mas meritocrática (não falo de oportunidades, atenção!). Mas não faz mesmo sentido que um conjunto de empresas do sector financeiro continue a engordar quando há cada vez mais pessoas a pagar essa engorda à custa de dificuldades que já entram na definição socioeconómica de efectiva pobreza. Não é que um casal de meia idade e o seu acto neo-shakespeariano vão mudar o mundo. Pode ser que aumentem só um bocadinho a visibilidade da dor colectiva, que é demasiado silenciosa, demasiado envergonhada.

1 comentário:

Naná disse...

Infelizmente há mesmo muita pobreza encoberta... por vezes os rostos encobrem mais do que seria suportável... e eles continuam a engordar e a esmifrar quem nunca teve grandes posses ou margem de manobra enconomico-financeira