Decidimos entrar no mar, à vista das ondas enormes. Decidimos arriscar. A onda aproxima-se, passamos. Vem outra, subimos e descemos com ela. E outra, grande demais, que nos obriga a mergulhar e centrifuga-nos numa rebentação estrondosa que não acaba. Perdemos o alto e o baixo, as cores invertem-se e, finalmente, percebemos que vai passar. Mais um pouco, e voltaremos a encher de ar os pulmões. Valeu a pena o mergulho.
A diferença, querida Rita, é que agora não volta tudo ao lugar. A Ana disse-o bem, o fim do teu sofrimento foi um alívio muito passageiro para nós. Vê lá que egoísmo da nossa parte, desejarmos que não sofresses mais. Que estupidez. É claro que tinhas direito a sofrer mais, mas a sofrer como qualquer outra mulher de 30 anos. Era-te devido curar desgostos de amor. Gerir ansiedades pequeninas. Matar saudades. Desejos. Tinhas direito a tanta, tanta coisa e, ainda por cima, não ias fazer nada pela metade. Pego no postal que me enviaste há exactamente um ano, de Moçambique, e queria estar lá contigo. Conhecendo-te para além das palavras. Programando outras viagens. A porcaria da morte ser para sempre é injusto demais.
4 comentários:
sabes que quando alguém morre, não sei se me sinto mais triste por elas que morreram ou se por nós que cá ficamos, e pela dor da nossa perda...
começo a ter a certeza que é mais pela segunda razão
Foi uma luta desigual...doí ler a última publicação...assim como tantas outras para trás...mas a última...
A paz de uns é sempre um sofrimento para outros.
Farto-me de pensar nisto, gralha. Em todos os sofrimentos normais a que ela teria direito do topo dos seus 30 anos...
É horroroso.
Tenho saudades, muitas saudades.
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