12 dezembro 2013
o corpo ao manifesto II
Do lado de fora da minha janela está um homem a serrar umas tábuas e, neste momento, gostava mesmo de trocar de lugar com ele. Uma pessoa passa a juventude a estudar para ter “um emprego” e depois chega a esta altura da vida e, por muito gosto que tenha no que faz profissionalmente, há muitos dias em que anseia pelo repouso de um belo esforço puramente físico. Tantos anos de evolução, tanta ciência, tanta arte, mas aquilo que me apetecia agora era mesmo não ter de inventar novas fórmulas para descrever o que já foi descrito, debruçada sobre o teclado e respirando a brisa em segunda mão do ar condicionado. Já sei, já sei, que a chuva e o vento e os calos e as costas. Vá lá, por que é que acham que há tanta gente a fazer exercício físico em condições atmosféricas impróprias, trepando montanhas e descendo ondas? Não há nada que faça melhor à cabeça do que consagrá-la aos serviços mínimos enquanto o corpo dá no duro. Não é masoquismo nem revivalismo pré-industrial, é respeito próprio.
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4 comentários:
gralha, essa ideia passa-me pela cabeça tantas, mas tantas vezes. Tenho dias em que daria tudo por ter um trabalho que envolvesse apenas uma parcela ridícula do meu cérebro e que me deixasse esgotada fisicamente, mas com a cabeça sossegada.
Minha querida gralha, tu continuas a produzir ideias que me saem das entranhas... "Não há nada que faça melhor à cabeça do que consagrá-la aos serviços mínimos enquanto o corpo dá no duro." Tão verdade, caraças, tão verdade.
:)
Há coisa de um ano pus-me a roças silvas num figueiral... quando acabei, não sentia os bracinhos... mas dormi que nem uma pedra e soube tão bem aquele esforço físico!
Nem mais.
(essa imagem não é do Indiana Jones?)
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