Neste dia em que nos despedimos de Nelson Mandela (e agradecemos por ter vivido numa época em que testemunhámos a sua passagem incontornável pelo mundo), detenho-me um bocadinho na importância do perdão. Guardar zangas, rancores e mágoas é acumular lixo dentro de nós. Parece óbvio e, no entanto, pode ser tão difícil fazer este tipo de limpezas. Perdoar a sério é um exercício cardiovascular e emocional. É nadar contra a corrente. Contraria o instinto básico de respeito próprio. Faz-nos temer pela nossa inviolabilidade futura. É mesmo tramado.
E então como conseguimos perdoar quando aquele que falhou fomos nós próprios? Como podemos aceitar que não somos perfeitos, que não conseguimos ir a todas, que fazemos porcaria e temos de continuar a viver com isso? Sem as costas vergadas. Sem nos sentirmos um bicho rafeiro. Mas, se virmos bem as coisas, não é diferente de perdoar outra pessoa. É fechar um capítulo e acreditar que o passado não esgota a nossa definição. Também somos, todos, feitos dos nossos gestos de hoje e das nossas expectativas para o que só em pequena parte controlamos do futuro. Se conseguíssemos, de facto, perdoar quem nos fez mal e perdoar-nos pelo mal que fazemos, de certeza que haveria muito mais espaço para deixar o bem acontecer.
6 comentários:
Pronto, acabei de me esbofetear ao ler isto... tens tanta razão... mas nem sempre a razão comanda aqui a "coisa"...
É que até tenho facilidade em perdoar, mas quando são reincidentes, a coisa muda um bocadinho...
Falamos muito nisso na minha familia (que viveu muitos anos em Moçambique), de como Mandela foi um lider, um homem fora de série. Tinha sido tão facil ter havido um banho de sangue e ter-se escrito a Historia, como tantas vezes se escreve.
é isso mesmo...e é muito dificil mesmo!
Eu sobre o Mandela não me manifesto nesta onde global pois partilho a vida com uma pessoa que vivia lá e que não lhe conhece só o lado mundialmente reconhecido. Nestas coisas do perdão o R. tem um lema interessante: posso perdoar mas não esqueço. Isto na vida como neste episódio em particular.
E de facto, convenhamos, podemos sim, perdoar, já esquecer é outra história. Eu particularmente consigo ser bem rancorosa, outras vezes não, depende do meu grau de culpa na situação.
Admito que me custa um bocadinho perdoar-me a mim própria...
Naná, o objectivo do post era mais que não te esbofeteasses :)
Carla e Vera, curioso como experiências tão próximas (geograficamente) podem dar perspectivas diferentes.
Carla Isabel, acho que é sempre difícil - mas vale tanto a pena.
Amigo Imaginário, é o que custa mais, não é?
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