31 julho 2014

a ilusão da facilidade

As almas mais atentas e conhecedoras do comportamento dos corvídeos blogosféricos já podem ter notado que, por aqui, anda no ar de novo a tentação de procriar. Aliás, isto é uma espécie de post anual. É sempre assim: chega o Verão com os seus dias mais leves. Os meninos crescem sem pedir licença, portam-se como anjos e nós começamos a pensar que é tudo tão lindo e tão suave que bem podíamos aumentar a carga. Como se isto de criar filhos fosse parte de um plano de treinos para a prova do Quem Quer Ter a Família Mais Ideal.

Não é.

Por muito que apeteça voltar a ter uma bola pequenina para encher de amor, um filho é uma pessoa nova que entra para a nossa vida, com tudo o que isso implica. Há sempre coração para mais. Com ginástica, até há braços e orçamento para mais – também uma tentação, a parentalidade estóica – mas o impulso animal para a sucessão dos nossos genes não pode cegar-nos. Porque chega uma altura na vida em que o que temos não precisa de ser aperfeiçoado. Porque sendo um, dois, três, quatro, dez, o que somos é bom e suficiente. Não falta ninguém*. E saber apreciá-lo, em paz, não é só um triunfo do córtex frontal sobre o bulbo raquidiano; é o melhor para todos. Mesmo que esse facto tenha de ser recordado com disciplina diária.

* Bom, numa óptica How I Met Your Motheriana, se eu sou a Robin, ele o Ted, o mais velho o Marshall e o mais novo o Barney, o nosso equilíbrio ontológico precisa de uma Lily.

16 comentários:

Inesa disse...

Podias fazer mais dois (vírgula dois)... assim compensas se eu não fizer nenhum. Era de amiga!

Pisco disse...

Hey! EU sou a Robin! ;)
(Ou numa lógica The-Big-Bang-Theoryana, de acordo com o miúdo lá de casa, sou... o Sheldon.)

gralha disse...
Este comentário foi removido pelo autor.
gralha disse...

Inesa, só à conta da minha família precisava de ter mais uns 27. Trabalha tu, que faz bem.

Quando me encontrares, numa lógica The Big Bang Theoryana eu sou... Ummm... Não é fácil... O Raj? (bolas, que agora fui procurar o elenco à net e até fiquei banzada como ele é um borracho na vida real!). O meu marido é o Leonard, o filho mais velho é o Sheldon e o filho mais novo é a Penny :P

Ana. disse...

"E saber apreciá-lo, em paz, não é só um triunfo do córtex frontal sobre o bulbo raquidiano; é o melhor para todos."
Ó pá, a sério, tu és genial!! Genial é a única palavra que me ocorre.
Se isto fosse um livro, tinhas direito a PostIt a marcar a página e sublinhado nesta frase! Adoro!

dona da mota disse...

Será mesmo uma ilusão? Esta semana houve um momento em que eu disse ao R.: Se me sentisse sempre assim, com o equilíbrio que sinto agora, era tudo muito, muito fácil (tipo viver).
Eu também faço a piada que a culpa é do verão, mas depois penso que não, isto já vem de antes, o meu ideal seriam mesmo 5 filhos. Ponto final. O grande problema é que agora (há-de ser dos 35) estou mais racional, peso prós e contras... a sério, eu não era assim...
Mas depois há factores mais leves que me levariam, logo, a ir em frente, como se soubesse que vinha mesmo outro menino, era já. Isto talvez seja a tal ilusão... Ainda esta semana estava no quarto deles (que é enorme) e estava a pensar como ficariam 2 beliches...
Só sei que não é um assunto encerrado, e para o R. também não, vamos falando, treinando ahahahah, e pensando no assunto!

gralha disse...

Ena pá, nunca me tinham atribuído um post-it imaginário, Anamê. Corei.

Dona da mota, volto a dizer que a capacidade de lidar com o caos (físico e psicológico) de cada um é o que pesa mais. Eu sou control freak, não há volta a dar. Tu és destravadinha de todo (e por que é que a menina não pode partilhar o beliche???)

disse...

(Um dos meus descendentes, fã nº1 do HIMYM, ficou bem triste quando soube que era o último episódio. Eu, confesso, não sou grande apreciadora)

Gralha, mas o que eu queria dizer, esquece a série e sente a coragem da Dona da mota.

gralha disse...

Té, eu compenso em abundantes doses de coragem física a minha grandessíssima mariquice psicológica (pronto, e o facto de ter passado por uma depressão pós-parto da última vez também não ajuda)

dona da mota disse...

Gralhinha, os factores geográfico-sociais-psicológico-familiaporperto eram muito diferentes na ultima vez... Agora estás em casa.
A menina poderia partilhar o beliche mas há um quarto se vier a menina, mas e depois onde é que eu punha a roupa por passar? No quarto da menina? Sobrecarregava-a com anos e anos de herança feminino-coisa? Ahahahaahh

Té, não é coragem, como diz a Gralha eu sou mesmo destravadinha, o meu problema é que já fui mais.... uma pessoa começa a crescer e dá nisto! Ahahaahh

Amigo Imaginário disse...

Sempre gostei muito do exercício: "E se...". Mera concepção teórica, claro. Depois, páro logo ali. Só não posso é sentir aquele cheirinho a Mustela!

Mas compreendo o que dizes em relação ao facto de aceitarmos que somos felizes e completos assim mesmo. Sem espaço para mais. Excepto sonhos. :)

gralha disse...

Motoqueira de mi corazón, já da primeira gravidez percorri caminhos muito sombrios. Dou-me muito mal com o estrogéneo ou lá o que é (devia ter nascido homem homossexual).

Amigo Imaginário, cheirinho a Mustela quase me provoca uma subida de leite :D

Su disse...

Demorei anos - ANOS! - a convencer-me disso. Consegui e agora, aos 40, já não me meto noutra.

ddm disse...

Os 40 a chegarem, e os filhos já mais crescidos, fizeram-me pensar muito nisso outra vez... mas demorei tanto tempo a conseguir o equilíbrio de que também falas que acho melhor deixar as estrelas alinhadas nesta constelação. :)

*Adorei a analogia HIMYM e TBBT

Unknown disse...

O equilíbrio na vida é parecido com o equilíbrio de um navio em alto mar... A perfeição está na adaptação constante! Bjs e umas óptimas férias para os quatro! Tenho pena de estar uns dias sem leitura deste blogue, de que tanto gosto! Teresa Power

calita disse...

Gralha, querida, claramente há um filho teu/vosso à espera de nascer. Vá lá, tu sabes que apesar das hormonas, das finanças, da psique, da família alargada, da humidade, da falta de espaço, do emprego, dos projectos, etc., pode ser bom, pode ser muito bom :)