18 abril 2013

ansiaudades

Quando lanço as cartas de tarot não estou a fazer previsões de futuro (e aviso disso a clientela, toda ela amiga). Pego no sentido do conjunto, franzo a testa para o efeito credibilidade e proclamo ruminações que chegam a parecer fazer sentido. Os meus ouvintes ficam consolados, quando era consolo que buscavam. E preocupados, quando já vinham com uma nano-pulga atrás da orelha. Não sou futuróloga, sou uma amplificadora de consciências confessamente amadora.
Contudo, suspeito que sei exactamente a forma como o meu futuro me fará olhar para o passado, agora presente. Sei que não me vou esquecer de tudo de fundamental que aprendi este ano. Vou recordar docemente as coisas tristes. E vou ter umas saudades monstruosas das coisas boas, tão grandes que, para caberem no tempo, não se contêm nesse momento por vir. Quando vejo o meu filho mais velho a finalmente aprender a andar de bicicleta, fico já com saudades do orgulho dessa conquista só dele. Quando vejo o meu filho mais novo a provar comida de cão e a pedir-me mais, para me desafiar, o coração pára por uns segundos - não tanto de surpresa perante mais uma patifaria mas sobretudo de um amor explosivo pelo ser absolutamente único que ele é.
Posso vir ainda a fazer muitas coisas na vida, mas nenhuma chegará aos calcanhares do privilégio que é acompanhar o crescimento destas criaturinhas. Que ainda por cima gostam imenso de mim, caramba.

7 comentários:

Naná disse...

Há coisas tão importantes que o Tarot nunca poderá revelar ;)

Anónimo disse...

Tão giro, pá!
Eu quando penso que um dia vou andar com 3 homens enormes e fantásticos à minha volta, que eu pari, eu pequenina ali no meio... quase que choro de emoção... ainda por cima vou estar super gira, de cabelo grisalho e vão dizer-lhes que têm uma mãe tão gira e nova. É que nem preciso de tarot para adivinhar... :)
De resto, é mesmo ir saboreando o dia-a-dia. Uma coisa que eles - e o pai deles - me têm ensinado é a saborear o presente, cada dia, o bom e o mau. E aprender.
Adorei o título porque é possível sentir-se as duas ao mesmo tempo!

Melissa disse...

"sou uma amplificadora de consciências confessamente amadora".

Oh! Gosto tanto de ti, gralha :)

gralha disse...

Naná, o meu tarot (que nem tenho aqui, repara) revela que hoje estás... ummmm... de cuecas vestidas!

Vera, uma estatística adorável (para ti e para mim, pelo menos): 60% dos homens italianos vivem com a Mãe ou a menos de 1 Km dela :D

Melissinha: fiquei a pensar se seria amplificadora ou ampliadora, mas gosto mais de me imaginar como equipamento musical do que como utilitário de escritório, olha. Eu também gosto muito de ti, miúda :)

Anónimo disse...

O meu homem deixou uma vida feita aos 32 anos a 12500 km's daqui, muito por causa da mãe. A sorte foi dele porque me veio encontrar, perdida no meio do nada (sorte a minha, vá). Os filhos têm-lhe os genes porque há tempos disse a um deles: "isso é quando saires cá de casa e fores morar com a tua namorada" e ele desatou a chorar que não quer sair de casa, ahahahahah! tão fofinho!

Naná disse...

Vês?! O teu tarot está certíssimo! :P

E da minha experiência nestas ciências nada exactas de cartas atiradas, as "amplificadoras de consciências confessamente amadoras" têm uma margem de acerto muito superior aos que se proclamam profissionais!

calita disse...

"Ansiaudades" - que maravilhosa palavra!