Durante a adolescência alinhavada a paixões platónicas e
relações impossíveis, foram várias as vezes em que o som do chuveiro me cobriu
o lamento repetido: “Está bem, isto não resulta. E o que é que eu faço deste
amor todo que sinto?” O tempo passou, o dramatismo anda mais disfarçado, mas
vejo agora que isto não acontece só com o amor, esta espécie de tiro ao alvo falhado,
uma pontaria emocional coxa, a roçar o patético. Dou por mim a não encontrar
equilíbrio nem bom senso nisto das relações em geral. Mas também, se calhar,
não é suposto estas coisas funcionarem segundo regras certas de contabilidade.
Gostamos, e pronto. Se não sabemos como direccionar nem demonstrar devidamente
esse afecto, se ele se perde no ar, se fica muitas vezes suspenso, se bate numa
parede, não vem daí mal ao mundo. De certeza que há vários aforismos orientais
que explicam como tudo retorna à origem, não me está é a ocorrer agora nenhum.
5 comentários:
eu acho que vamos transferindo.
Para outras pessoas? Não sei, acho que cada afecto é um bocado pessoal e intransmissível.
Sei lá. A cada novo apaixonamento, há um que fica para trás. Não conseguimos manter-nos empolgadas por um monte de gente e coisas o tempo todo. Acho que os afetos vão mudando de acordo com o que procuramos ou do que precisamos. Prefiro pensar assim a achar que morrem secos.
Isto para dizer que o afeto somos nós, acho eu. É nosso. Bate na parede, fica suspenso, procura outro rumo (e encontra depressa, pelo menos aqui com a Melas).
Sinto-me tentada a escrever um tratado acerca do que isto diz das vivências do afecto nos dois lados do Atlântico, Mel. Pelo menos nisso ainda estás do lado de lá.
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