02 janeiro 2013

estabilidade

Os próximos tempos anunciam-se seguramente inseguros e exigem-nos adaptação, golpes de rim, habilidades circences com um sorriso. Nada se perde, tudo se transforma. Mas o que é que o sabichão do Lavoisier sabia do amaparo que nos dá a consistência do quotidiano? Preciso de estabilidade. Sou avessa à mudança constante. Não, eu não floresço em momentos de crise e dispenso bem o nervoso miudinho do desconhecido, desprezo a surpresa, e o abismo faz-me dores de barriga.
Preciso de estabilidade. Teço todos os dias uma teia feita de horários, rotinas e gestos repetidos. E é dessa teia que é feito o meu ninho. Não sou mãe-galinha, sou mãe-aranha. Reconheço a minha culpa e não sei se e como algum dia escaparão os meus filhos para um mundo cruel feito de incertezas, sombras e liberdade. Bem sei que a vida está cheia de aviões furando torres, que a morte chega, que as separações acontecem, mas não sei construir os nossos dias com outra matéria menos banal do que esta fibra da fiabilidade. Eles adormecem todas as noites tão sossegados, de bochechas mornas e luzidias. Até quando bastará? Estou a fazer tudo errado, serão uns impreparados, munidos apenas de amor e confiança. Toda a gente sabe que isso não chega para nada.

9 comentários:

Anónimo disse...

Outro diz falava com um senhor que admiro profundamente. Falámos da educação dos filhos, os dele serão da minha idade. Dizia-me ele que um dia, quando entrou no mercado de trabalho, o filho disse-lhe que o tinham educado mal pois não o prepararam para a maldade das pessoas... . E ele respondeu ao filho: "essa parte compete-vos a vós descobri-la. Nós só trabalhámos os vossos valores que devem ser sempre a vossa base em tudo na vida"...
E eu compreendo que não devemos assustar os miúdos, que o mundo é terrível e há pessoas que os vão tramar à grande... Interessa, sim, que levem bons valores e não sejam eles os vilões das histórias...
Beijos, dos grandes!

gralha disse...

Em abono da verdade, Vera, também já lhes falei de Talibans, Inquisição, Pedro Passos Coelho, Estaline, G.W. Bush...

Mas insisto mais nos bons exemplos :)

Anónimo disse...

Estaline, vá lá, mas Pedro Passos Coelho?... Atão Gralha?!!! Estou a brincar, também já lhes falei dele, expliquei que é por causa dele que não podem ter mais irmãos!...

Naná disse...

Pois... Isso de ser bruta ou delicodoce é um dilema pra mim. Fui educada de forma delicodoce é sei o quanto me custou crescer à força após a morte antecipada da minha mãe. Mas também sei que até lá fui profundamente feliz!
Creio que vou deixar ao tempo essa decisão, e ao critério da curiosidade do meu filho. Se ele perguntar, não vou esconder e tentarei responder de forma prática e objectiva.

Menina do Mar disse...

Pois a mim custa-me mais ver pais que deixam os filhos verem as noticias (que até para adultos são autênticos murros no estômago) com o argumento de que têm que se preparar para a vida!

A verdade é que os nossos filhos darão as cabeçadas que tiverem que dar, vão ter as desilusões que tiverem que ter, vão cair as vezes que tiverem que cair porque não há conversas ou visões sobre a realidade que possam impedir que isso aconteça.

Por isso, deixe-mo-los ser felizes, ser crianças, passando os valores do bem e do mal, mas sempre adaptados à idade deles.

calita disse...

Pois eu acho que os teus filhos estão mais do que preparados. Têm tudo o que precisam para enfrentar o resto todo.

gralha disse...

Calita, pelo menos têm ambos um irmão espectacular :)

gralha disse...

Naná, a verdade é que não fazemos a coisa intencionalmente, não é? Não tomamos a decisão de passar a ser mais duros ou mais bonzinhos, é simplesmente como nos sai a maternidade :)

Menina do Mar, eu não deixo os meus filhos verem notícias porque eu própria não vejo - mas gosto que vão estando a par do que se passa, numa linguagem adaptada ao respectivo nível de maturidade.

Naná disse...

Gralha, é isso mesmo!