Este post da S. voltou a escavar no abismo que há em mim e provavelmente em muitas mulheres, que separa aquilo que tentamos ser racionalmente e o que fazemos movidas sabe-se lá por que motivos emocionais/biológicos/societais (seleccione a opção desejada). Afinal de onde vem a decisão de ter filhos, pelo menos para aquelas que o decidem conscientemente? Para as outras pessoas, não sei. E respeito em absoluto as razões de cada um. Para mim é claro como água: é para poder gostar deles, ponto final. Objectivo mais egoísta era difícil.
O que é mesmo estranho é que eu já desconfiava que ia gostar assim deles antes de os ter. Como é que eu sabia isto? Como é que, desde pequenina, tenho cá dentro um novelo anafado de amor infinito para desembrulhar? Não sei, mas tenho. Da mesma maneira que ao ter o segundo filho sabia que não o amaria menos do que o primeiro. Ou terceiro, quarto, quinto, quantos viessem. Da mesma forma que me sinto profundamente amada desde tenra idade, antes de o verbalizar ou de compreender o que é isto de ser filha nas suas várias implicações. Será que há pessoas que nascem com tão grande superavit de afecto que não concebem guardá-lo todo cá dentro? E por que é que esse amor há de ser direccionado para aqueles que geramos ou adoptamos como nossos? Amores há muitos mas este é mesmo diferente. A verdade é que faz sentido que quem não tem filhos não possa adivinhar na sua totalidade, com o mero uso da razão, a dimensão incomparável deste amor.
Não sei se há mais quem tenha esta minha espécie de convicção tão segura como irracional. Se tiver, a intuição dessa promessa de amor é mais forte do que fome e sede. É urgente. E então passa por cima dos obstáculos previsíveis e imprevisíveis, do bom senso, dos medos, e faz do ventre coração para, de um amor, criar uma vida única e um bocadinho nossa. Pelo menos de empréstimo.
5 comentários:
E depois leio posts de nascimentos e fico com tanta vontade de repetir aquele momento em que os conhecemos, a primeira vez em que os colocamos ao peito (suspiro...). O que vale é que o meu marido nunca vem ler isto.
Absolutamente sublime este texto!
Acho que ninguém sabe explicar, por mais que tente, mas se a vida é feita de momentos, caramba (para usar uma palavra suavezinha, vá), quem tem filhos conta momentos absolutamente únicos e incomparáveis, como esse momento em que os conhecemos. E só de pensar nisso já me apetece chorar, mas há tantos mais. Tantos mais.
Adorei o novelo infinito de amor.
Obrigada por mencionares o meu post, gralha. Depois deste inspirador post e dos comentários intrigantes, diria que o que me moverá no dia em que decidir ser mãe é uma curiosidade dos diabos.
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