25 outubro 2013

Vṛkṣāsana

Pé ante pé, sinto a aproximar-se pelo corredor escuro nem um metro de gente, acordado bem antes da hora. Enquanto faço de conta que não reparo, mantendo irrepreensivelmente o equilíbrio do meu Asana, ele senta-se no sofá, embrulha-se no meu roupão e observa-me. “Parece um triângulo”. Desfaço o pose, dou-lhe um beijinho, estico os braços e elevo uma perna. É cedo e estamos ambos bem despertos. Reparo mais uma vez como é tão parecido comigo e perdoo-lhe a subtracção daqueles momentos que gosto de reservar para mim. Hoje não leio ao pequeno-almoço: conversamos em surdina. “Não foi minha por causa que acordei, mamã, foi por causa do senhor vizinho”. Bem sei, é um dos encantos de se viver num prédio quase centenário. Vamos fazer chá, torradas com mel e canela, e esperamos que o resto da casa acorde.

Reparem no esforço para encontrar coisas boas desta altura do ano, reparem! Pronto, não me queixo mais.

3 comentários:

Naná disse...

Não há nada melhor que estes doces despertares...!

gralha disse...

É bom para variar, Naná :)

dona da mota disse...

Tão bom! Sabes que o Ruca diz aquilo que leste, (que fixe não estares em casa e assim), mas desde que não estou quando adormece acordo com ele ao meu lado de manhã. Ele, que nunca gostou de dormir connosco!!! :)