Pé ante pé, sinto
a aproximar-se pelo corredor escuro nem um metro de gente, acordado bem antes
da hora. Enquanto faço de conta que não reparo, mantendo irrepreensivelmente o
equilíbrio do meu Asana, ele senta-se
no sofá, embrulha-se no meu roupão e observa-me. “Parece um triângulo”. Desfaço
o pose, dou-lhe um beijinho, estico os braços e elevo uma perna. É cedo e
estamos ambos bem despertos. Reparo mais uma vez como é tão parecido comigo e perdoo-lhe a subtracção daqueles momentos que gosto de reservar para mim.
Hoje não leio ao pequeno-almoço: conversamos em surdina. “Não foi minha por
causa que acordei, mamã, foi por causa do senhor vizinho”. Bem sei, é um dos
encantos de se viver num prédio quase centenário. Vamos fazer chá, torradas com
mel e canela, e esperamos que o resto da casa acorde.
Reparem no esforço para encontrar coisas boas desta altura do ano, reparem! Pronto, não me queixo mais.
3 comentários:
Não há nada melhor que estes doces despertares...!
É bom para variar, Naná :)
Tão bom! Sabes que o Ruca diz aquilo que leste, (que fixe não estares em casa e assim), mas desde que não estou quando adormece acordo com ele ao meu lado de manhã. Ele, que nunca gostou de dormir connosco!!! :)
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