20 novembro 2013

curso de vôo para bípedes

As terças-feiras são os meus dias de semi-folga de mãe biológica, aqueles em que é o pai a tratar dos nossos rapazes e do jantar. São dias que começam mais cedo, para ir correr, e acabam mais tarde, muitas vezes com a barriga infeliz fruto da refeição menos bem conseguida (desculpa lá, marido, mas a cozinha não se conta entre um dos teus muitos dons) e o coração cheio de saudades dos meus pequeninos, que vejo de raspão, ao deitar. Estes dias terminam com uma sala cheia de pré-adolescentes barulhentos e animados, que demoram a deixar de lado telemóveis, queixas de excesso de trabalhos de casa e conversas de amigos, para darem espaço a algum sossego e pensarem sobre a vida e a nossa condição de filhos muito amados.
Já dou catequese há perto de 14 anos e continua a valer a pena. É muito cansativo e é muito compensador. Lido com todo o tipo de meninos, desde aos mais tímidos aos mais expansivos, dos mais humildes aos maiores fanfarrões, meninas de pulseiras até ao cotovelo e meninos com um nariz por assoar há demasiado tempo. E reconheço todos os anos como é encantador conviver com gente destas idades, já muito consciente do que se passa e ainda sem boa parte da tonteria da adolescência. Adoro as perguntas que fazem e fico incrivelmente tocada quando sinto que percebem que aquilo de que estamos a falar tem directamente a ver com a vida deles. Senão não valia a pena aquela hora semanal, subtraída ao estudo e ao tempo em família. Vê-los a crescer e a assumir a sua identidade, sem medo de ter dúvidas, sem pretensão de certezas, com auto-estima e respeito pelos outros – essa é a maior recompensa. E é incrível como, todos os anos, sinto que são um bocadinho meus e custa vê-los levantar vôo. Só que é precisamente para isso que estamos juntos, numa espécie de rampa de lançamento para a vida sem pára-quedas mas com um GPS muito especial.

3 comentários:

calita disse...

És uma pessoa especial e espero, sinceramente, que o saibas. Não só que o sintas, que o saibas com toda a certeza.

Lua Descalça disse...

Os meus dias de semi-folga são à sexta-feira e pela mesma razão! :-) Também sou catequista, há quase 20 anos (glup) e nos últimos anos tenho feito catequese com os meninos mais novos. E sim, é gratificante ver aqueles olhinhos prontos para a descoberta e vê-los crescer com muitas perguntas (eu sempre com medo de não ter a resposta certa) e lá vão ganhando asas para um dia voarem sozinhos! :-) E sim, também sinto que são um bocadinho meus!

Obrigada por esta(e as outras) partilha! Cheguei aqui, não sei muito bem como e volto com regularidade porque gosto muito de ler estes textos. E até comecei logo a comentar… espero não parecer muito “intrometida”.
Ana

gralha disse...

Ena pá, calita, agora até me deixaste sem saber o que dizer. Obrigada.
Vai passando e comentando à vontade, Lua Descalça, tenho muito gosto.