Uma amiga (olá Leonor!) trouxe para a arena do Facebook este texto do Dr. Eduardo Sá, agitando as águas desse mar imprevisível que é uma família em crescimento. Ninguém pode vir aqui culpar as minhas hormonas do facto de achar esta crónica, como muitas outras do mesmo autor, uma camada de disparates. Deixando de lado o estilo inónico-patetinha e o tom monocórdico que transborda até para os caracteres escritos, a verdade é que este senhor parte de uma premissa aparentemente universal de que o nascimento de um irmão é uma afronta para os principezinhos que regiam a dinâmica do pequeno reino familiar. É claro que há muitos casos em que o processo de adaptação a um irmão pode ser complicado, mas daí a achar que essa é a regra, ou sequer o comportamento expectável, vai uma grande distância.
Pérolas como “ [a afirmação] «eles gostam muito um do outro» – tão do agrado dos pais – é slogan. (…) Como é possível não ter um ódiozinho de estimação por quem, só porque reclama o nosso brinquedo favorito com o volume no máximo, merece do pai e da mãe um meloso «deixa lá!...»? (…) uma criança não é obrigada a saber que um bebé vem equipado com tantas restrições que, em vez dele ser um presente, o transformam num encargo para toda a vida” fazem-me ter alguma vontade de dar um tautau ao Dudu. O Dudu sabe que há crianças que amam tanto os irmãos que ficam com os olhos a brilhar de orgulho quando já conseguem gatinhar? Imagina que há rapazinhos de 6 anos que tiram espontaneamente a própria roupa para agasalhar um irmão que está doente? Acredita que é mesmo possível que a filharada não se imagine a crescer uns sem os outros, com as cumplicidades, partilhas e barafundas normais que daí decorrem? O cúmulo da loucura: é mesmo verdade que alguns pais e mães conseguem desempenhar o perigosíssimo exercício de equilibrismo de integrar um novo ser e nunca deixar que o que já existia se sinta menos no topo das prioridades e dos afectos. É uma espécie de magia, Dudu, chama-se amor incondicional e boas doses de bom senso. Lamento imenso se os seus manos lhe tiraram o seu brinquedo favorito e nunca conseguiu ultrapassar o trauma.
10 comentários:
Outro dia, na festa da Rosa, 11 anos, um espectáculo (admitamo-lo!), muito ranhoso, alguémme chamou a atenção para a minha irmã Vitória, que vai nos 18 - estava toda emocionada, corriam-lhe lágrimas pela cara abaixo.
Há gente muito burrinha e esse senhor é um deles.
Adoro, adoro, adoro o que escreveste!!! Li o texto no outro dia... e embora ainda não tenha 2 filhos (mas terei em breve) achei o texto deste senhor super (hiper) redutor... se existem alminhas pobres de espirito para quem a chegada de um novo filho os impede de continuar a gostar e "mimar" o filho mais velho, esta generalização parece-me de extremo mau gosto... de pouca inteligência e principalmente burrice mesmo...
Por isso OBRIGADA gralha por teres escrito o que eu não consegui escrever!
Adormeci no segundo parágrafo.
É claro que há ciumeira, mas curiosamente aqui em casa é o mais novo que tem mais ciúmes, mas há toneladas de amor, toneladas. Outro dia, a Alice estava a arder em febre e o meu pirralho mimado de 3 anos foi pôr a mão na testa da irmã e tapá-la melhor, dando-lhe um beijinho. Nestes momentos tudo o resto se apaga e nós temos a certeza absoluta de que o amor é vinte vezes maior do que tudo o resto ;)
Também me irritou bastante este texto tão redutor!
A minha mais nova, com 1 ano e meio, acha por bem morder tudo o que mexe (e não)... a mais velha, 6 anos, é na grande maioria das vezes o seu alvo principal.
Num dos episódios a pequenina mordeu, a mais velha não conseguiu segurar umas lágrimas de dor, nós ralhamos, ficou sentida e chorou!
A mais velha ao vê-la chorar, abraçou-se a ela e mimou-a até mais não...
Nada é assim tão redutos, muito menos o Amor!
E sendo ele o "profissional" da coisa, só lhe cai mal um texto destes...
Mas, não sei se repararam, ele muito lá para o fim do texto muda a direcção e afinal irmãos são maravilhosos. Pelo que é só um textinho boçal.
Sempre me surpreendeu a admiração e o sucesso que o Eduardo de Sá granjeia. Acho que a pediatra dos meus filhos acertou em cheio quando lhe chamou "Dr. Choninhas". Aquele tom monocórdico, aquelas ideias pseudo polémicas... argh!
O texto pode ser redutor no sentido em que apresenta apenas uma parte da realidade. Mas o que ele descreve é real e pode ser uma chamada de atenção para não nos desleixarmos, enquanto pais.
A minha irmã é das pessoas que mais amo no mundo mas ainda me lembro, e já passaram 30 anos, ainda tenho gravada na memória uma imagem de o meu pai a brincar com a bebé recém nascida e de eu ir para a minha cama chorar. Eles viram e falaram comigo e isso foi muito importante para mim. Amo a minha irmã mas ainda me lembro desse dia.
Os meus filhos adoram-se mas ontem o do meio disse que odiava mais novo. Hoje de manhã, quando acordaram perguntei de novo se gostavam um dos outro. Eles sorriram, abraçaram-se, beijaram-se e não se largavam aos beijos.
Também é verdade que muitas vezes os mais velhos são prejudicados. Não falo do amor que já não recebem, isso não, isso é ridículo, mas o ter que partilhar, o emprestar quase à força algo que o mais novo quer desesperadamente, isso acontece. E quando estamos com pouca disponibilidade sai o tal "vá lá, és mais velho, compreendes melhor, empresta-lha lá para ele não chorar".
Como já disse, o texto refere o lado mais negro da questão, mas ele existe. Temos é que estar alerta. Quando percebo que algum dos meus filhos é prejudicado, de alguma forma, depois falo com ele e agradeço-lhe, isso também é importante e é a forma de não deixar que o lado menos bom da questão impere.
Concluindo, não sou grande fã do Dr. Eduardo Sá (já a minha mãe tem os livros todos dele, ahahahahah) mas percebo o que ele estava a dizer, eu acho que é um alerta.
Admito que tenho um problema de pele com este senhor mas é um facto que ele fez para aqui uma grande generalização. E não é ao rematar tudo com corações e passarinhos que resolve a coisa. Eu sei que há irmãos que passam um mau bocado e tive muita sorte que não acontecesse comigo, não vale é fazer de conta que os pais que não 'detectam' estas situações são distraídos ou demasiado românticos. Às vezes não há crise.
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