10 junho 2014

limpezas de primavera

É muito mais fácil esvaziar roupeiros, esfregar portadas, separar roupa em caixotes e tirar dedadas de paredes do que dar conta da desarrumação que vai cá dentro de nós. De esfregão em riste, alguidar a jeito, começa-se numa ponta e termina-se na outra, com os cabelinhos húmidos colados à testa e a satisfação do trabalho concluído. As ideias de aranha, elásticas e resistentes, nem sabemos bem a que gavetas da memória se prendem. Há muito pó varrido para debaixo dos tapetes com que reconfortamos os nossos passos incertos. Acumula-se o cotão por desleixo, é certo, mas muitas vezes mais por medo de descobrir a nossa verdadeira cara reflectida nas superfícies devidamente polidas. A porcaria familiar é a nossa porcaria, ainda assim. A novidade do asseio interior pode ser paralisante.

2 comentários:

Amigo Imaginário disse...

E juntar as limpezas da Primavera (ou de qualquer outra estação, já agora) às limpezas das teias aranhas da nossa mente é do melhor que há! É toda uma arte que adoro cultivar... :)

gralha disse...

Também eu, Amigo Imaginário, também eu.